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Meu caro Eládio
Por: JC Online - 26/4/2009
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Desculpe incomodar o senhor no descanso eterno reservado aos bons. No entanto, quando a gente se sente perdido, com um nó na garganta e diante de um futuro sombrio, o caminho é se valer dos ancestrais, dos pais fundadores das instituições.
O senhor tem este significado para a grande e secular comunidade alvirrubra: o líder que consolidou os alicerces de um clube hegemônico de 1950 a 1968, conquistando 11 campeonatos e tornando-se nacionalmente respeitado.
Certamente sua modéstia alegaria que naquele tempo as disputas se davam em pé de igualdade e que, agora, com a política de extermínio da CBF, é praticamente impossível competir local e nacionalmente.
De fato, presidente, isto explica muita coisa, mas não explica tudo. Mais ainda, não pode justificar um fatalismo estéril muito menos o samba de uma nota só para encobrir a incompetência e o fracasso. Pelo contrário, é um motivo a mais para olhar para dentro de nós, arregimentar forças e superar o privilégio dos adversários.
Infelizmente, em quarenta e um anos ganhamos apenas sete campeonatos e, o que é mais grave, estivemos à beira de um colapso total.
Tudo parecia perdido, quando o século 21 abriu para todos os alvirrubros um largo sorriso de esperança: renasce o Náutico, tendo como fatores da recuperação, em marcha, lideranças clarividentes, dirigentes competentes, consenso político, planejamento estratégico colocado em execução e uma torcida participante e mobilizada. Novas conquistas e um novo patamar foram alcançados em curto espaço de tempo.
Porém, meu caro Eládio, sinto comunicar que Náutico teve grave recaída nos últimos cinco anos. Um surto de personalismo e mediocridade vem contaminando, seriamente, nossas hostes, prejudicando o presente e comprometendo o futuro. O nosso torcedor que tinha recuperado a alegria de torcer sofre a agonia de cada jogo.
O que era uma obra coletiva desmoronou. As pessoas não se afastaram do Clube: foram, pouco a pouco, tangidas; a mobilização, desmontada. A sensação é que o Náutico tem dono: nada mais perigoso para a vida de uma instituição que é propriedade e patrimônio coletivos; nada mais fatal do que o silêncio da maioria diante do poder ilimitado da minoria.
Há um sentimento generalizado de tristeza e de humilhação, recalcado, embutido, entranhado na alma de cada torcedor seja porque não há meios de expressão eficaz, seja porque qualquer palavra que contrarie os poderosos de plantão é tratada como um desserviço ao Clube.
Militante alvirrubro de mais de meio-século, não dá para ficar calado nem temer consequências. No Conselho, as palavras e as ações não têm eco no Executivo. Por isto, resolvi enviar este e-mail para o céu, seu endereço, Eládio, e mesmo perturbando o seu sossego, o faço em nome de uma nobre causa: o Náutico, uma das razões de nossas vidas.
Daí de cima, espero que ilumine o nosso caminho.
*Gustavo Krause é conselheiro do Náutico
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